Muitos já fizeram fortuna com opções na bolsa, outros milhares quebraram com elas; entenda as características e a importância deste ativo, que pode conferir alto risco aos portfólios com excesso de alavancagem, ou ainda proteção para investimentos quando usadas corretamente e de forma estratégica.
Mas afinal, o que são opções e quais suas características?
Em resumo, opções funcionam como contratos de seguro, que podem ser usados tanto para alavancagem de carteira, quanto para proteção ou simples especulação. As opções são classificadas como derivativos, pois seu preço deriva de um ativo subjacente (ou ativo-objeto), cujo preço é influenciado por uma série de fatores além da variação do ativo-objeto. Os ativos subjacentes podem ser ações, ETFs ou contratos futuros, como dólar, milho, soja etc.
Diferente das ações que, uma vez adquiridas ou vendidas, conferem direito de propriedade ou cessação deste direito em caráter permanente e por tempo indeterminado, as opções possuem “prazo de validade” e códigos de negociação diferentes das ações e fundos. A depender do tipo de opção, o vencimento poderá ser semanal, mensal, ou bimestral – sim, elas sumirão da sua carteira quando esse dia chegar!
Esses ativos seguem um modelo de precificação bastante complexo, desenvolvido por matemáticos e estatísticos e aprimorado ao longo do tempo. Atualmente, modelo mais difundido para precificação de opções se baseia no trabalho testado e publicado oficialmente em 1972 por Fischer Black e Myron Scholes (e que leva o nome dos economistas), denominado modelo de Black and Scholes.
Contudo, os estudos que deram origem ao modelo datam de muito antes, em 1900, com trabalhos desenvolvidos por Louis Bachelier, Paul Samuelson, Harry Markowitz, William Sharpe e, especialmente, pelo matemático Edward Thorp, cujo livro “Beat the Market” serviu de base para o trabalho de Black e Scholes.
Simplificando, o cálculo através do modelo Black and Schles envolve cinco variáveis que chamamos de “gregas” – o que renderia assunto para um livro inteiro. No entanto, diversas plataformas trazem esses valores calculados, assim como uma série de outros indicadores que facilitam a análise e a montagem de operações com opções. As gregas, são complementares e guardam proporcionalidade entre si, sendo elas, em ordem de importância: Delta, Gama, Theta, Vega, Rho.
Como funcionam os contratos de opções na bolsa brasileira
Além gerar confusão entre investidores não familiarizados, o mercado de opções é frequentemente mencionado como um “atalho” para enriquecimento rápido, mas, como todo atalho, pode resultar em grandes perdas em algum momento. Certamente, essa não deve ser a mentalidade de quem se propõe a operar opções na bolsa de valores. Para quem se aprofunda no tema e aprende a usar este instrumento de maneira adequada, pode sim obter ganhos expressivos, beneficiando-se de forma sustentável de sua aplicação em diferentes cenários.
O mercado de opções é regulado e segue as mesmas regras aplicadas à outros ativos negociados na bolsa de valores. As opções negociadas em bolsa NÃO devem ser confundidas com operações com pares de moedas (forex) ofertadas por plataformas estrangeiras, também conhecidas como opções binárias. Essas plataformas funcionam como verdadeiras casas de apostas e vendem este produto como investimento, levando milhares de desavisados a perder grandes quantias financeiras na ilusão do ganho rápido com rentabilidades elevadas, sem contrapartida de tempo e recursos.
Atualmente, todas as negociação são feitas através de corretoras de valores e são registradas pela B3, que realiza a emissão das séries autorizadas e define o padrão dos contratos. Além disso, conforme mencionado, o investidor pode lançar mão de plataformas de investimento especializadas que disponibilizam recursos para montagem e estudos de estratégias com opções, calculando, inclusive, as variáveis “gregas”, determinantes na precificação desses ativos.
Essas plataformas incluem sites dedicados à análise, terminais de negociação amplamente utilizados no mercado financeiro e o próprio home broker de algumas corretoras que possuem um módulo de opções mais “amigável” para operações pontuais de menor volume e frequência.
Nomenclatura dos contratos de opções
Existem dois tipos de opções: as de compra (CALL) e as de venda (PUT). A CALL confere ao detentor o direto de comprar o ativo subjacente pelo preço acordado através da opção. Já a PUT, é o oposto e confere ao detentor o direito de vender o ativo subjacente pelo preço de referência acordado. Esse preço acordado é chamado de strike e, via de regra, pode ser identificado no próprio código da opção. Assim, a nomenclatura de negociação destes ativos é formada com a seguinte estrutura:
No primeiro exemplo, o número 35 é referente ao strike, ou seja, o preço que o comprador terá o direito de pagar pela ação no futuro, independentemente dela estar cotada a R$ 37, R$ 40, R$ 100 ou qualquer valor acima de R$ 35, para que faça sentido o exercício do contrato. Logo, caso decida exercer seu direito de compra, o tomador da opção pagará R$35,00 por ação. Se a opção for uma PUT, este é o preço de venda caso o tomador decida exercer o direito de vender o ativo-objeto no vencimento, o que ocorreria caso a ação ficasse abaixo de R$ 35.
A mesma lógica vale para os contratos futuros. Neste exemplo, o strike representa a cotação do dólar com 4 dígitos aplicada a um montante de $1.000, sendo os “00” antes do strike dígitos padrões, que podem ser reduzidos a somente “0” em outros contratos. Seguindo o exemplo do dólar, outra especificidade é que cada contrato tem valor fixado em $50.000. Logo, ao comprar uma opção de dólar, adquire-se o direito de comprar $50.000 no vencimento do contrato, o que só faria sentido se a cotação do dólar estivesse acima do strike da opção.
A título de exemplo, considere que o DÓLAR está negociando próximo de 4.975 e você acredita em uma tendência de alta. Para se proteger dessa alta, o preço de compra poderia ser travado com uma CALL de strike 5.025 e vencimento em FEVEREIRO de 2024, por exemplo. Dessa forma, o código seria DOLG24C005025. Essa estrutura vale para contratos futuros no geral.
Os vencimentos
Os vencimentos são expressos por letras que representam os meses do ano conforme as tabelas a seguir, sendo a primeira tabela referente aos vencimentos das opções sobre ativos à vista e a segunda referente aos contratos futuros, cuja denominação (CALL ou PUT) já está no código da opção para estes contratos e a letra do mês de vencimento é a mesma, tanto para a CALL quanto para a PUT.
Para opções sobre mercado à vista, os vencimentos ocorrem na 3º sexta-feira do mês de vencimento, ou no dia útil anterior, caso haja feriados. Já para opções sobre contratos futuros, o vencimento varia de acordo com o ativo-objeto. No caso do dólar, o vencimento ocorre no 1º dia de negociação do mês, para o Boi Gordo, ocorre no último dia útil do mês, já para o Milho, no 15º dia do mês de vencimento (a cada dois meses) ou próximo dia útil, e assim por diante conforme a especificação de cada contrato sazonalidade etc.
No caso do mini dólar, há ainda opções com vencimentos semanais, cujo código de ativo-objeto varia conforme a semana. Assim, para a primeira semana do mês temos DS1, para a segunda DS2, para a terceira DS3 e para a quarta semana DS4. Os detalhes desse contrato estão descritos no site da B3.
Vencimento | CALL | PUT |
Janeiro | A | M |
Fevereiro | B | N |
Março | C | O |
Abril | D | P |
Maio | E | Q |
Junho | F | R |
Julho | G | S |
Agosto | H | T |
Setembro | I | U |
Outubro | J | V |
Novembro | K | X |
Dezembro | L | Z |
Vencimento |
IND/WIN |
DOL/WDO |
BGI |
CCM |
Janeiro | F | F | F | |
Fevereiro | G | G | G | |
Março | H | H | H | |
Abril | J | J | J | |
Maio | K | K | K | |
Junho | M | M | M | |
Julho | N | N | N | |
Agosto | Q | Q | Q | Q |
Setembro | U | U | U | |
Outubro | V | V | V | |
Novembro | X | X | X | |
Dezembro | Z | Z | Z |
Lotes mínimos – Contratos futuros
A maior parte dos contratos futuros negociam lotes a partir de 1 contrato, porém, o dólar cheio é uma exceção, negociando lote mínimo de 5 contratos. Atualmente, a B3 também disponibiliza opções sobre o mini dólar, que podem ser adquiridas a partir de 1 contrato, ao invés de 5 como ocorre no dólar cheio, tornando o produto mais acessível para operadores pessoa física.
No geral, opções sobre contratos futuros são operadas por players institucionais ou empresas que têm um portfólio exposto ao dólar ou commodities e utilizam opções como proteção contra oscilação de preços, ou seja, para travar a cotação de compra ou venda de produtos. Isso porque o valor inicial para se operar esses ativos é consideravelmente mais elevado quando comparado ao custo de uma posição de opções no mercado à vista.
Lotes mínimos – Mercado à vista
Para o mercado Bovespa (à vista), os lotes padrões são de 100 opções, mas por serem negociadas na ordem de centavos, o prêmio a ser pago por um lote de 100 opções costuma ser bastante reduzido, especialmente se comparado aos prêmios pagos no mercado futuro. O valor do prêmio a ser recebido ou pago é obtido, basicamente, do produto entre o preço de tela da opção e a quantidade adquirida (P x n).
Como calcular o prêmio de opções no mercado futuro
O prêmio a ser pago ou recebido ao negociar opções de futuros segue uma dinâmica um pouco diferente e caracteriza o custo da montagem de posição, Para calcular o prêmio de um lote de opções de dólar cheio na cotação atual, por exemplo, considerando-se o lote mínimo padrão de 5 contratos, temos:
VLP = Pc * 50 * n
Onde:
VLP – valor líquido total do prêmio para montagem
PC – preço de negociação do contrato na data de montagem
n – número de contrato (lote)
*O multiplicador 50 representa o valor total do contrato de dólar, fixado em $50.000, dividido por $1.000, uma vez que o valor do contrato USD/BRL é negociado na base de milhar (X.XXX,XX) e não na forma da cotação real (X,XXX).
**Não existe piso ou teto para o preço do contrato e isso dependerá do modelo de precificação de opções e das expectativas do mercado acerca da probabilidade de exercício na data de vencimento.
Logo, considerando-se o exemplo anterior da CALL de dólar com vencimento em fevereiro de 2024, código DOLG24C005025, cujo lote mínimo é de 5 contratos e o último preço (prêmio) negociado da opção até o momento era de R$22,94, temos:
VLP = 22,94 * 50 * 5 = 5.735,00
O cálculo funciona de forma semelhante para os demais contratos futuros. Para consultar as características de opções sobre outros ativos, acesse o site da B3, na seção Produtos e Serviços > Negociação > Renda variável e selecione a classe de ativos desejada.
Importância e riscos do mercado de opções para os investimentos
Para os investidor comum, as opções, quando utilizadas de maneira responsável e de forma estratégica, podem trazer um retorno adicional considerável ao portfólio a médio e longo prazo. É possível até mesmo reduzir a exposição em períodos de cautela, sem ter que se desfazer de ativos a um custo muito acessível, por exemplo. É importante mencionar, que estes ativos são indicados pelas corretoras apenas para investidores que se enquadram nos perfis arrojado e agressivo, ou que possuam experiência com investimentos.
No geral, opções sobre contratos futuros são operadas por players institucionais ou empresas que têm um portfólio exposto ao dólar ou commodities e utilizam opções como proteção contra oscilação de preços, ou seja, para travar a cotação de compra ou venda de produtos. Isso porque o valor inicial para se operar esses ativos é consideravelmente mais elevado quando comparado ao custo de uma posição de opções no mercado à vista. Contudo, nada impede que investidores pessoa física experientes operem opções no mercado futuro, desde que conheça os riscos envolvidos.
Os exemplos e aplicações citadas caracterizam apenas uma das inúmeras possibilidades e estratégias possíveis com opções, que incluem especulação ou proteção em eventos anunciados, proteção de cauda (eventos do tipo cisne-negros), alavancagem patrimonial, rentabilizar portfólio, compra e venda de ativos com prêmio.
Curiosidades sobre o tema
Para quem acompanha o mercado mais de perto, inúmeras operações “suspeitas” que se caracterizam como insider trade (termo em inglês para se referir ao uso de uma informação privilegiada para obter vantagem, cuja prática é considera crime) ocorrem com certa frequência e são detectadas por traders. Usualmente, as opções são empregada nessas operações para tentar burlar as regras e obter vantagens antes de Fatos Relevantes ou eventos que alteraram abruptamente o preço de ativos. Veja nosso artigo sobre Os maiores casos de Insider Trading da bolsa brasileira e as consequências desta prática.
Disclaimer:
As informações e características dos ativos são sempre passíveis de mudanças e atualizações por parte da B3 (no caso de ativos negociados no Brasil) e os preços e operações apresentadas são apenas para fins didáticos e não caracterizam recomendação de investimento. Opções são ativos extremamente voláteis e de alto risco, não sendo adequadas para o portfólio da maioria dos investidores, pois envolvem risco de perda de todo o capital aplicado ou superior.